Na poesia de José Fernando Guedes, pássaros são metáforas do instante único, que o poeta busca aprisionar para tornar definitivo. Seus versos são fortes e precisos, com um toque de suavidade e maciez. Exploram os mistérios da vida como as mãos de um neurocirurgião - o que ele de fato é - exploram os mistérios do cérebro. Guedes traz para a FLIM 2017 dois livros de poemas, Revoada e Se o vento diz, o mais recente. E aproveita para falar da poesia no mundo contemporâneo, numa palestra apropriadamente intitulada "Poesia no século 21 - Por que e para quem?".
Do livro Se o vento diz:
Canário
Eu tive um canário que ganhei de alguém,
À noite se enrolava todo em si mesmo
Para dormir
Como um punho fechado e amarelo.
Pela manhã se abria
O punho se desfolhava.
Um dia abri a gaiola, mas ele não saiu.
Me disseram que nascera no cativeiro
Fora da gaiola morreria.
Nasceu para ser prisioneiro
Tendo como companheiro
Seu canto.
É destino ser canto e prisioneiro
E à noite ser punho
Cerrado de guerreiro.
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