A carioca Ana Maria Machado tem uma obra vasta e diversa. Seus
livros para crianças, jovens e adultos, têm a presença do Brasil e das coisas
brasileiras. São uma declaração de amor da autora ao país em que nasceu,
até quando lhe faz críticas. São também um espaço de encantamento e revelações sobre o Brasil e os brasileiros. E tudo isso sem abrir mão do olhar sobre o mundo e
sua diversidade.
Foto: Acervo familiar |
Pintora, jornalista, livreira, educadora: as muitas profissões
que Ana exerceu ao longo da vida, e que foi deixando para se fixar como
escritora, continuam a se refletir em seu ofício de escrever. Também revelam uma
mulher sem medo de mudar, virar o mundo e a própria vida de cabeça para baixo, sempre que acha necessário.
Nas mais de 100 obras infantis e juvenis que a tornaram
reconhecida internacionalmente, aparece, com sutileza e sem discursos
didáticos enfadonhos, a preocupação de educar para as artes plásticas, para a
música e para a valorização do conhecimento histórico e das práticas éticas. Disposta
a abrir os horizontes de seus leitores, a autora com frequência subverte as
regras tradicionais da narração. Uma de suas histórias vai ao ponto de começar com
o “felizes para sempre”.
Ao longo de sua carreira literária, que a levou a deixar um dos mais altos salários pagos na época a uma mulher na imprensa brasileira, Ana Maria Machado participou ativamente da construção
e consolidação de uma literatura infantil e juvenil nacional, até então quase
que limitada às obras de Monteiro Lobato.
Não é de admirar que a maior parte do prestígio nacional e
internacional de Ana, que lhe valeu a eleição
para a Academia Brasileira de Letras em 2003, entre centenas de outros reconhecimentos, esteja associada a sua obra para crianças. Mas, como todos os grandes artistas, sua capacidade de surpreender é
inesgotável. Desde que começou a publicar romances para adultos, em 1983, Ana já nos presenteou com uma dezena de obras
que mesclam ficção e realidade, sentimento intensos e reflexões agudas, em
busca de uma verdade que só a literatura é capaz de oferecer, sobre nós mesmos e as sociedades que construímos,
Tudo somado, cerca de 200 livros já foram publicados com o
nome de Ana Maria Machado na capa. São quase 150 obras infantis e juvenis, incluindo
várias recontações de histórias tradicionais brasileiras, chinesas, árabes,
africanas e da mitologia greco-romana; uma dezena de romances para adultos e jovens; e outro tanto de artigos e ensaios, em que a autora reflete sobre questões literárias, políticas e sociais. Seu primeiro livro publicado foi, curiosamente, para adultos: O Recado do Nome, de 1977, sobre a obra de Guimarães Rosa. Era a tese de doutorado defendida pouco antes na França, onde viveu três anos, num auto-exílio voluntário para escapar do regime militar no Brasil. As experiências com os anos de repressão e falta de democracia no Brasil iriam depois aparecer, transfiguradas, em vários de seus livros infantis e no romance adulto Tropical Sol da Liberdade.