sábado, 18 de julho de 2015

Thiago de Mello: diretamente da Amazônia para a FLIM

Ele nasceu e mora na Amazônia. É um dos mais celebrados poetas brasileiros. Do alto de seus quase 90 anos de idade, aceitou o nosso convite: Thiago de Mello viajará quase 3 mil quilômetros, de barco e avião, para vir participar da FLIM 2015. O poeta da floresta, o poeta da utopia, o autor de “Os Estatutos do Homem”, um clássico da poesia brasileira traduzido em 30 idiomas – vai deixar por alguns dias sua casa na beira da mata para estar em Santa Maria Madalena como convidado especial da sexta edição da FLIM. 

                                                                 
                                                                
                                                                 Fica decretado que,
a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,.
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra,
e que as janelas devem permanecer,
o dia inteiro, abertas para o verde
onde cresce a esperança.

(Artigo 2 de Os Estatutos do Homem)

O homem confiará no homem como
um menino confia em outro menino.

(Artigo 4 de Os Estatutos do Homem)
  
Amadeu Thiago de Mello nasceu em 30 de março de 1926, em Barreirinha, cidade amazonense de 15 mil habitantes, localizada às margens do Paraná do Ramos, o braço mais comprido do rio Amazonas.

Filho da floresta,
água e madeira
vão na luz dos meus olhos
e explicam este jeito meu de amar as estrelas
e de carregar nos ombros a esperança



Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar medicina. Convocado pela poesia, abandonou a faculdade e, em 1951, aos 25 anos, publicou Silêncio e Palavra, o primeiro de muitos livros. Já na estreia, chamou a atenção da crítica e conquistou o respeito de escritores consagrados como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e José Lins do Rego. Nos anos seguintes sua poesia se tornaria, sem perder o lirismo, cada vez mais comprometida com as causas sociais e a defesa da liberdade e da dignidade humana. São dessa época obras como Faz escuro mas eu canto e Canção do amor armado.

Faz escuro mas eu canto
porque a manhã  vai chegar.
Vem ver comigo companheiro, vai ser lindo,
a cor do mundo mudar.

Como muitos artistas e intelectuais de sua geração, Thiago de Mello amargou a prisão e o exílio após o golpe militar de 1964. Morou no Chile, na Argentina e na Europa. Só voltou ao Brasil em 1978. Rumou imediatamente para a pequenina vila de Bom Socorro, em Barreirinhas, onde montou a casa em que vive e trabalha até hoje: sempre vestido de branco e cultivando a fala suave e o olhar tranquilo.

Viajei e sofri pelos cantos do mundo.
Hoje, na floresta, sou um caboclo que só vivo e escrevo.

(Carta para Soares Feitosa)

Com a vida embrenhada na mata, sua poesia mudou novamente.  Mais uma vez, sem abrir mão do que fora antes. A utopia política da liberdade e da dignidade do homem permaneceu, acrescida agora do chamado da floresta de sua Amazônia natal. Perto de completar 90 anos, Thiago de Mello continua a ser um homem sintonizado com o seu tempo.

Trabalho que nem um mouro,
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.


                                      (Canto do meu canto)



PARA SABER MAIS:
No Facebook: ThiagoDeMelloPoetaDaFloresta

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Encravada na Serra Fluminense, a 230 quilômetros do Rio de Janeiro, Santa Maria Madalena mantém a arquitetura do tempo dos barões do café, em meio ao verde da Mata Atlântica. Sua combinação de beleza e simplicidade encanta os visitantes.


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Projeto gráfico: AndersonGrafus
Foto da Pedra Dubois: Leandro Almeida