Ele nasceu e mora na Amazônia. É um dos mais celebrados poetas brasileiros. Do alto de seus
quase 90 anos de idade, aceitou o nosso convite: Thiago de Mello viajará quase 3 mil quilômetros, de barco e avião, para vir participar da FLIM 2015. O poeta da
floresta, o poeta da utopia, o autor de “Os Estatutos do Homem”, um
clássico da poesia brasileira traduzido em 30 idiomas – vai deixar por alguns dias sua casa na beira da
mata para estar em Santa Maria Madalena como convidado especial da sexta edição da FLIM.
a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,.
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra,
e que as janelas devem permanecer,
o dia inteiro, abertas para o verde
onde cresce a esperança.
(Artigo 2 de Os
Estatutos do Homem)
O homem confiará no homem como
um menino confia em outro menino.
(Artigo 4 de Os
Estatutos do Homem)
Amadeu Thiago de Mello nasceu
em 30 de março de 1926, em Barreirinha, cidade amazonense de 15 mil
habitantes, localizada às margens do Paraná do Ramos, o braço mais comprido do
rio Amazonas.
Filho da floresta,
água e madeira
vão na luz dos meus olhos
e explicam este jeito meu de amar as
estrelas
e de carregar nos ombros a esperança
Na juventude, mudou-se para o
Rio de Janeiro para estudar medicina. Convocado pela poesia, abandonou a faculdade e, em 1951, aos 25 anos, publicou Silêncio e Palavra, o primeiro de muitos livros. Já na estreia, chamou
a atenção da crítica e conquistou o respeito de escritores consagrados como
Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e José Lins do Rego. Nos anos
seguintes sua poesia se tornaria, sem perder o lirismo, cada vez mais
comprometida com as causas sociais e a defesa da liberdade e da dignidade humana.
São dessa época obras como Faz escuro mas
eu canto e Canção do amor armado.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo companheiro, vai ser lindo,
a cor do mundo mudar.
Como muitos artistas e intelectuais de sua geração, Thiago
de Mello amargou a prisão e o exílio após o golpe militar de 1964. Morou no
Chile, na Argentina e na Europa. Só voltou ao Brasil em 1978. Rumou
imediatamente para a pequenina vila de Bom Socorro, em Barreirinhas, onde montou
a casa em que vive e trabalha até hoje: sempre vestido de branco e cultivando a
fala suave e o olhar tranquilo.
Viajei e sofri pelos cantos do mundo.
Hoje, na floresta, sou um caboclo que só vivo e escrevo.
Hoje, na floresta, sou um caboclo que só vivo e escrevo.
(Carta para Soares Feitosa)
Com a vida embrenhada na mata, sua poesia mudou novamente. Mais uma vez, sem abrir mão do que fora antes.
A utopia política da liberdade e da dignidade do homem permaneceu, acrescida
agora do chamado da floresta de sua Amazônia natal. Perto de completar 90 anos,
Thiago de Mello continua a ser um homem sintonizado com o seu tempo.
Trabalho que nem um mouro,
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.
(Canto
do meu canto)
PARA SABER MAIS:
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