A garota que conduz a narrativa chama-se Esperança, mas todos a chamam de Essa Menina. “Minha mãe teve 19 filhos. No Nordeste, no meio desse monte de criança, todos
são chamados de ‘esse menino’, ‘essa
menina’”, explica a autora. E é com esse nome que a personagem-título vai
crescendo, num bairro pobre da periferia
de uma cidade nordestina, num ambiente
de homens e mulheres fortes e sofridos. Curiosa, irrequieta, atrevida, vai enfrentando medos e descobrindo a vida,
em meio ao catolicismo tradicional de uma tia, as práticas do candomblé de uma
vizinha negra, a dureza silenciosa de uma misteriosa índia velha agregada da casa e as crenças
políticas materialistas do pai – um comunista sempre perseguido pela polícia,
desde os tempos do primeiro governo Vargas até o regime militar.
Tina Correia, nascida e criada em Sergipe, professora aposentada da rede municipal do
Rio, levou 30 anos escrevendo seu primeiro livro, o romance Essa Menina, que ela vem lançar na FLIM,
no sábado 27 de agosto, às 15h30. Narrado pela voz da menina do título, o livro
mistura memórias da vida da autora, fatos reais
acontecidos a outras pessoas e pura e simples ficção. O resultado é uma
narrativa saborosa, às vezes triste, frequentemente engraçada, que dialoga com
a história recente do Brasil. E quem já leu Essa
Terra, de Antônio Torres, o homenageado da FLIM 2016, logo descobre que
Essa Menina é um contraponto - feminino e mais urbano - de Totonhim. Uma feliz coincidência que venham se encontrar
aqui em Santa Maria Madalena, porque não resta dúvida: Essa Menina também é filha de Essa
Terra.