Nélida Piñon tem um temperamento aventureiro, exaltado e ao
mesmo tempo refinado, que se reflete na linguagem de seus livros. É uma linguagem elegante, de vocabulário
rico, mas que não tem pudor de, volta e meia, ignorar as regras
da gramática e desafiar a sintaxe.
A imaginação da Nélida leitora "viaja" com obras como o Dom Quixote e sua busca de moinhos de vento com que lutar; a trágica história de amor de Tristão e Isolda; as conquistas dos navegantes portugueses narradas por Camões em Os Lusíadas; as aventuras dos Três Mosqueteiros do francês Alexandre Dumas; e com os feitos de deuses e heróis da mitologia e da literatura grega.
Estátua de Machado na ABL |
Esse gosto pelas narrativas épicas e míticas convive com a paixão pela
literatura realista do brasileiro Machado de Assis. Uma paixão tão intensa que chega às raias da
veneração: Nélida confessa que sempre faz “uma oração pelo Brasil” ao passar
pela estátua do velho Machado que adorna a entrada do prédio da Academia
Brasileira de Letras - instituição da qual, aliás, ela foi a primeira mulher
presidente.
Richard Wagner, uma paixão |
Tais paixões aparecem, de uma forma ou de outra, nos livros
da escritora Nélida. Assim como o gosto pela música, sobretudo as óperas de Wagner e Mozart e as obras do brasileiro Villa-Lobos. Importante também é a paixão pela comida. Sim, a
comida. Os suculentos pratos galegos e portugueses, como os cozidos e os
diferentes preparos do polvo e do bacalhau, surgem nas mesas dos personagens de
Nélida e em suas memórias da infância e de viagens. E se harmonizam
perfeitamente com a lembrança da torradinha com caviar saboreada de olhos
fechados numa delicatessen de Nova Iorque ou os pratos brasileiríssimos, como o leitão à pururuca e as lautas feijoadas com amigos em
seu apartamento no Rio. E como, na imaginação dos escritores tudo é possível,
até num lanchinho de “café, guaraná e biscoito de polvilho” que ela sonha um
dia oferecer “a todos os leitores” de seus livros.
“Não conheço os leitores e nem sei onde vivem no território brasileiro. Mas penso um dia convidá-los a serem parceiros, sócios, aliados das minhas aventuras narrativas. A me conhecerem pessoalmente, trazendo debaixo do braço algum romance de Machado de Assis. E que vejam como é a aparência de quem se habituou a registrar os enredos que também eles viveram junto com suas famílias.” (Livro das Horas, ed. Record, 2014)
Veja também: Nélida Piñon, a homenageada da FLIM 2019
Os livros de Nélida
Um pouco de Nélida por ela mesma
Os livros de Nélida
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