Aos 24 anos, já morando no Rio de Janeiro e trabalhando como
redator de jornal, Ferreira Gullar despertou atenção com o livro A luta corporal. Nele, apresentava desde
poemas intimistas e líricos a experimentações ousadas para a época, como a
invenção de palavras e a fragmentação do texto na página. Isso o aproximou dos paulistas
Haroldo e Augusto de Campos, praticantes e teóricos da chamada poesia concreta,
um tipo de poesia em que as palavras são arranjadas de forma visual e o suporte
do poema tanto pode ser um livro quanto outro qualquer objeto. Mas, logo
depois, insatisfeito com o que considerava excesso de autonomia da forma sobre
a expressão de sentimentos, juntou-se a um grupo de artistas e jornalistas
para fundar o movimento neoconcreto, que agitou as artes plásticas
brasileiras nos anos 50 e 60 e projetou artistas como Lygia Clark
e Helio Oiticica.
Pouco depois, Gullar trocou a sofisticação da arte de vanguarda
pela ação política. Após o golpe militar de 1964, seus textos passaram, mais do
que antes, a ter claras preocupações sociais e sua linguagem se tornou mais
popular. Recorreu à literatura de cordel para tratar das carências do Nordeste
e ajudou a fundar o grupo de teatro Opinião,
para o qual escreveu peças que tratavam, geralmente com muita música e
bom-humor, das demandas das populações mais pobres das áreas rurais e dos
subúrbios.
Em 1969, após a assinatura do AI-5, que sacramentou a
instalação da ditadura no país, Gullar foi preso, junto com um grupo que incluía
Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1971, decidiu se exilar, primeiro em Moscou e
depois no Chile, Peru e, finalmente, Argentina. Voltou ao Brasil em 1977. Foi
quando o amigo Dias Gomes arranjou-lhe trabalho no núcleo de dramaturgia da
Rede Globo. Ali ele escreveu as minisséries Araponga
(com Dias Gomes) e As noivas de
Copacabana (com Dias Gomes e Marcílio Moraes); o episódio Insensato coração, da Quarta Nobre; diversos
episódios dos seriados Carga Pesada e
Obrigado doutor; e adaptações de
peças de outros autores para a série Aplauso.
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