quarta-feira, 24 de abril de 2019

Elegância e ousadia, caviar e feijoada


Nélida Piñon tem um temperamento aventureiro, exaltado e ao mesmo tempo refinado, que se reflete na linguagem de seus livros. É uma linguagem elegante, de vocabulário rico, mas que não tem pudor de, volta e meia, ignorar as regras da gramática e desafiar a sintaxe.

 

A imaginação da Nélida leitora "viaja" com obras como o Dom Quixote e sua busca de moinhos de vento com que lutar;  a trágica história de amor  de Tristão e Isolda;  as conquistas dos navegantes portugueses  narradas por Camões em Os Lusíadas; as aventuras dos Três Mosqueteiros do francês Alexandre Dumas;  e com os feitos de deuses e heróis da mitologia e da literatura grega.

Estátua de Machado na ABL
Esse gosto pelas narrativas épicas e míticas convive com a paixão pela literatura realista do brasileiro Machado de Assis. Uma paixão tão intensa que chega às raias da veneração: Nélida confessa que sempre faz “uma oração pelo Brasil” ao passar pela estátua do velho Machado que adorna a entrada do prédio da Academia Brasileira de Letras - instituição da qual, aliás, ela foi a primeira mulher presidente. 

Richard Wagner, uma paixão
Tais paixões aparecem, de uma forma ou de outra, nos livros da escritora Nélida. Assim como o gosto pela música, sobretudo as óperas de Wagner e Mozart e as obras do brasileiro Villa-Lobos. Importante também é a paixão pela comida. Sim, a comida. Os suculentos pratos galegos e portugueses, como os cozidos e os diferentes preparos do polvo e do bacalhau, surgem nas mesas dos personagens de Nélida e em suas memórias da infância e de viagens. E se harmonizam perfeitamente com a lembrança da torradinha com caviar saboreada de olhos fechados numa delicatessen de Nova Iorque ou os pratos brasileiríssimos, como o leitão à pururuca e as lautas feijoadas com amigos em seu apartamento no Rio. E como, na imaginação dos escritores tudo é possível, até num lanchinho de “café, guaraná e biscoito de polvilho” que ela sonha um dia oferecer “a todos os leitores” de seus livros.
“Não conheço os leitores e nem sei onde vivem no território brasileiro. Mas penso um dia convidá-los a serem parceiros, sócios, aliados das minhas aventuras narrativas. A me conhecerem pessoalmente, trazendo debaixo do braço algum romance de Machado de Assis. E que vejam como é a aparência de quem se habituou a registrar os enredos que também eles viveram junto com suas famílias.” (Livro das Horas, ed. Record, 2014)
Veja também: Nélida Piñon, a homenageada da FLIM 2019
                         Os livros de Nélida
                         Um pouco de Nélida por ela mesma


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